Fiquei
alguns dias aborrecida, entediada. Acordava de manhã e só conseguia focar os
problemas. Já percebeu que se você marca um problema ele aumenta? Aparece uma
grande lente de aumento que torna tudo mais penoso e sofrido.
E, quando
você está pensando no problema vem outros muito mais importantes: o jeito de
encarar a dificuldade. Dificuldade- difícil. O que parece difícil pode ficar
intransponível. É como trombar com um monte de pedras enormes na estrada. E
você não vê que o caminho tem flores também. As pedras machucam e , nem sempre
dá para pular as pedras. E, correr para tomar banho de rio ou de cachoeira. E,
quando a cachoeira está longe e as pedras grandes a frustração dá um baque no
corpo. Aí, a gente faz drama. Senta na pedra e faz cara de coitado. Chora;
chama os guias e, nem sempre uma oração para fortalecer a alma.
Mal sabe
que, após as pedras haverá um caminho mais leve se você enfrentar. Se parar nas
pedras vai sentar e chorar. Ou vai voltar e perder a linda paisagem.
Reconhecer o
problema é ser realista, mas é melhor não chamar de problema e, sim, desafio. O
desafio é uma palavra mais bonita. Chega a ser chique, não é? Problema - é
chato.
E, quando
estou assim, tudo fica mais chato. Aí, eu me lembro da casa do meu pai. E,
quando tocava a campainha e ele atendia. Sempre sorrindo. A sala era mágica. E,
lá conversávamos sobre Espiritismo. Na verdade, tinha vontade de chorar,
reclamar da vida mas seria muito egoísmo da parte. Meu pai estava atravessando
problemas sérios de saúde que limitavam sua vida bastante. Mesmo assim,
conversávamos muito e eu gostava dos seus conselhos. E, se eu chegava durante à
tarde, íamos para a cozinha onde a Ana Luiza, sua esposa preparava um delicioso
café. E, sempre havia bolo. E, se eu estava com vontade de chorar a vontade
passava logo. A casa do meu pai era um lugar seguro e aconchegante. Visitá-lo não era uma fuga ;
era uma saída, sentir a sensação familiar de aconchego.
E, sempre
chegava mais alguém, meu irmão, minha irmã. E, quando estou com problemas e,
passo perto da casa dele sinto um aperto:
" - Meu
pai não vai mais atender à porta!"- é sempre um pensamento saudoso
egoístico. Procuro não relembrar os oito meses de doença grave enfrentados por
ele. Não me regozijo da liberdade espiritual merecida que ele deve estar
desfrutando. Na minha saudade egoística um dia clamei:
"- Pai,
o senhor pode me ajudar?"- nos primeiros meses os sonhos eram frequentes.
Cheguei a ouvir sua voz grave me chamar. E, numa noite, tive um sonho memorável
que pode ter sido um desdobramento espiritual. Estava num local cheio de gente
e uma senhora me chamou:
- Sandra, seu pai quer falar com você!- ele
veio e me abraçou. E me deu um beijo no rosto. Foi tão bom! E, agora, mesmo
sendo espírita, umbandista a verdade é essa:
- Sua
presença física não mais
- Poder ligar para ele?- sem chances
- Sentar e
tomar café com ele junto com a família
toda. Sem chances.
- Almoços e festas de aniversário- sem ele. (
sem a presença física)
A gente sabe
que eles estão presentes e mais vivos do
que nunca mas temos que enfrentar essa ilusória falta. E, quando temos
problemas queremos o colo materno, o colo paterno ,um lugar seguro onde
possamos descansar das lutas.
E, se eu
ficar nessa onda frustrante de nostalgia posso entrar em depressão ou sufocar
meu pai de pensamentos negativos. E, tentando ser feliz, você ajuda seu ente
querido a melhorar, a viver em outro plano. Olhar para o nosso umbigo traz mais
pesar.
Quantas
perdas você já sofreu? Se for a morte de
um filho o pesar pode durar a encarnação toda. No entanto, Deus costuma dar uma
compensação para que você enfrente uma provação ou seja um novo desafio. Manda
sempre energias positivas, um pouco mais de consolo, novos amigos, novas sensações
e fluidos regeneradores. E, você acaba enfrentando o vazio inevitável através
de um novo projeto de vida, da caridade, de um recomeço.
Perdas
físicas são inevitáveis, mas as piores são as espirituais. Deixar de amar,
brigar, fazer conflitos. São marcas de sofrimento. Uma consulente perdeu o irmão há quinze dias.
Numa consulta comentou sobre o luto e disse que estava triste, mas sentia que o
irmão estava bem. Ás vezes, sentia vontade de chorar e ficava triste. A
tristeza faz parte desse processo. O seu irmão não estava doente e era
relativamente jovem. Enfarto fulminante. Minha consulente viajou uns quatro
dias, mas disse que estava enfrentando o luto
com muita força. E disse que se sentia relativamente bem, apesar da
tristeza. Voltou às tarefas domésticas e ao trabalho. E, me contou que, saber
que a vida não acaba com a morte era um grande consolo.
Quando estou
de mal com a vida procuro orar mais e pedir o apoio dos meus guias.
Converso com
minha mãe espiritualmente e sei que ela me ouve. Converso com meu pai
espiritualmente. Eles também precisam de paz e refrigério. E, também, precisam
de nossas preces.
Morrer em
vida é muito pior do que perder alguém fisicamente.
Se você
acreditar no movimento da vida e no fluir da esperança, estará preparado para
enfrentar as prováveis perdas que não são perdas.
Algumas
pessoas vão à campa dos entes queridos orar ou adorná-la com flores. Sim; seu
ente querido sentirá o aroma das flores e sua energia amorosa. Outros, rezam em
templos, olhando para o porta-retratos ou mesmo num choro dorido de saudade.
Eles gostam de ser lembrados, mas o desespero os aflige.
Outras
pessoas querem recados e mensagens espirituais. Há uma profusão de médiuns
habilitados para tal mas, de repente, você dorme e vai ao encontro deles. Sem
tensão; sem cobranças. Acorda revitalizado e otimista. E mal sabe que bateu um
longo papo com seu filho, seu ente querido ou amigo.
A vida
sempre nos oferece a semente da esperança, da fé e da luz. Não procure luz
olhando para as trevas. Acenda o candeeiro. A vida vai achar um jeito de lhe
ajudar de acordo com sua crença e seu jeito de funcionar diante dos momentos.
Seu filho,
seu namorado, seu pai, sua avó, estão todos vivos. E, não estão num céu
fictício e, nem mesmo num inferno incandescente. Estão vibrando pela sua
felicidade. Ouvem seu pranto ou sua risada. Não há distancia para a eternidade.
Mesmo que seu filho tenha partido pelas portas do suicídio não acredite na voz
da sombra e de eterno sofrimento. Jesus é misericordioso.
As folhas
caem e começa tudo de novo! As flores voltam!
E, pare de
pensar tanto no "morto" e olhe em volta! Os "vivos"
precisam de você e, você precisa deles.
Depois das
pedras vem uma estrada florida e, quiçá, você nem precise das pedras para
aprender a caminhar.
A verdade é
inevitável: um dia você vai partir dessa para melhor. Nem pense nisso e viva um
dia de cada vez. Seu ente querido precisa de paz, silêncio e repouso nos
primeiros tempos, mas de repente, se você ficar chamando muito por ele poderá
assustá-lo ou confundi-lo. Cada ser tem seu processo evolutivo!
Dedico esse
texto ao meu querido meu pai Sinval e minha querida Mãe Leny e tantos outros
que já se foram.
E todos que
amam e vivem o frescor da esperança!
Sandra Cecilia-
Blog: Relax Mental