Dentre os fenômenos classificados por
Allan Kardec como de emancipação da alma, há a catalepsia e a letargia, dois
fenômenos semelhantes entre si. As duas caracterizam-se por uma falta de
controle muscular. Diferenciam-se pelo fato de que na catalepsia ocorre um
enrijecimento muscular e na letargia, um “amolecimento” dos músculos, sendo que
às vezes se manifestam no corpo inteiro, de outras vezes em parte dele.
Ambas são ocasionadas por um certo
desprendimento do Espírito que produz, geralmente, uma insensibilidade física e
dificulta o controle sobre as regiões afetadas do corpo físico.
Por que nosso espírito sai do corpo?
A letargia pode desenvolver-se até a
fase de morte aparente, em que o sujeito toma as aparências de um cadáver. Em
certos casos os batimentos cardíacos e a respiração se tornam insensíveis e se
pode confundir o letárgico com um morto. No Evangelho é citado o caso de
Lázaro, o qual Jesus chamou de volta à vida. Tratava-se, na verdade, de um caso
de morte aparente.
“E, tendo dito isto, clamou com
grande voz: Lázaro, sai para fora.
E o defunto saiu, tendo as mãos e os
pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus:
Desligai-o, e deixai-o ir.” (João 11, 43-44)
O processo da morte ainda não tinha
se completado, apesar de seus parentes entenderem-no como morto e o terem
sepultado. A vida material ainda se mantinha por um fio e Jesus deve ter
percebido que ainda havia tempo para trazer o Espírito de volta ao corpo e
assim o convocou, sendo obedecido devido à sua poderosa energia e vontade.
No meio espírita ficou conhecido o
caso da médium Ivone do Amaral Pereira, que com poucos dias de nascida, estando
em um estado de letargia profunda, foi tida como morta. Por sorte, o bebê
acordou a tempo.
O estado de catalepsia pode se
desenvolver de maneira a provocar um acentuado enrijecimento, se tornando comum
à já conhecida imagem do cataléptico em transe sustentado apenas pelas suas
extremidades (cabeça e pés) sobre duas cadeiras, mantendo-se rijo e ainda
podendo suportar um grande peso sobre o seu corpo sem se vergar.
Uma instituição espírita chamou-me
certa vez para orientar quanto à aplicação do passe em uma jovem que ao
recebê-lo sentia suas pernas enrijecerem-se sem que ela conseguisse caminhar. O
diagnóstico prévio daqueles que acompanhavam o caso foi obsessão. Ao observar
melhor o fenômeno, porém, pôde-se verificar que se tratava de um caso de
catalepsia. A aplicação magnética favorecia o parcial desprendimento do Espírito
provocando a rigidez muscular. Por inexperiência, vários passistas postavam-se
ao redor da jovem fazendo imposições de mãos o que decerto agravava a situação.
O estudo teórico e prático do Magnetismo mostra que as dispersões fluídicas
seriam as mais recomendadas favorecendo o retorno à normalidade.
A ignorância sobre o tema pode levar
a interpretações errôneas, muitas vezes estigmatizando o portador das
faculdades anímicas ao taxá-lo de doente ou obsediado. O conhecimento a
respeito mostra uma faculdade natural que não revela o progresso moral ou
espiritual do seu portador, que pode servir tanto ao bem quanto ao mal,
conforme a sua vontade, como pode também se tornar inútil, se não for
identificada e bem compreendida.
Existe algum espírito no seu quarto?
É necessário que o cataléptico ou
letárgico seja bem orientado a fim de que saiba que não está doente nem é uma
pessoa anormal, que pode utilizar o seu potencial para o bem, como recurso de
auxílio ao próximo. Para isso, é de toda necessidade nos Centros Espíritas o
estudo da Doutrina Espírita na sua variada fenomenologia, em especial por parte
daqueles que têm um contato mais direto com os que buscam orientação e ajuda,
como dirigentes, coordenadores de tratamento, coordenadores de grupos de
estudo, participantes de reuniões mediúnicas, palestrantes e os chamados
atendentes fraternos.
Enquanto a Medicina tem esses
fenômenos como sendo patologias do corpo, muitas Instituições Espíritas os têm
como patologias da alma (obsessão), ambas concepções errôneas e estigmatizantes,
resultado da falta de conhecimento mais aprofundado em torno dos mecanismos de
manifestação da alma.
CORREIO ESPÍRITA | Adilson Motta de
Santana
Fonte: Chico de Minas Xavier
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