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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

“HISTÓRIA DE ACELINO: MEDIUM FRACASSADO NA SUA ULTIMA REENCARNAÇÃO, PASSOU ONZE ANOS NO UMBRAL. ”

– Minha história é muito diferente. A queda que experimentei apresenta características diversas e, a meu ver, muito graves.
E, atendendo-nos a expectativa, prosseguiu, narrando:
– “Também parti de “Nosso Lar”, no século findo, após receber valioso patrimônio instrutivo dos nossos assessores. Segui enriquecido de bênçãos. Uma de nossas beneméritas Ministras da Comunicação presidiu, em pessoa, as medidas atinentes à minha nova tarefa. Não faltaram providências para que me felicitassem a saúde do corpo e o equilíbrio da mente. Após formular grandes promessas aos nossos maiores, parti para uma das grandes cidades brasileiras, em serviço de nossa colônia. O casamento estava em meu roteiro de realizações. Ruth, minha devotada companheira, incumbir-se-ia de colaborar comigo para melhor desempenho das tarefas.
“Cumprida a primeira parte do programa, aos vinte anos de idade fui chamado à tarefa mediúnica, recebendo enorme amparo dos benfeitores invisíveis. Recordo ainda a sincera satisfação dos companheiros do grupo doutrinário. A vidência, a audição e a psicografia, que o Senhor me concedera, por misericórdia, constituíam decisivos fatores de êxito em nossas atividades.
A alegria de todos era inexcedível. Entretanto, apesar das lições maravilhosas de amor evangélico, inclinei-me a transformar minhas faculdades em fonte de renda material. Não me dispus a esperar pelos abundantes recursos que o Senhor me enviaria mais tarde, após meus testemunhos no trabalho, e provoquei, eu mesmo, a solução dos problemas lucrativos. Não era meu serviço igual a outros?
Não recebiam os sacerdotes católicos-romanos a remuneração de trabalhos espirituais e religiosos? Se todos pagávamos por serviços ao corpo, que razões haveria para fugir ao pagamento por serviços à alma? Amigos, inscientes do caráter sagrado da fé, aprovavam-me as conclusões egoísticas. Admitíamos que, no fundo, o trabalho essencial era dos desencarnados, mas também havia colaboração minha, pessoal, como intermediário, pelo que devia ser justa a retribuição.
“Debalde, movimentaram-se os amigos espirituais aconselhando-me o melhor caminho. Em vão, companheiros encarnados chamavam-me a esclarecimento oportuno. Agarrei-me ao interesse inferior e fixei meu ponto de vista. Ficaria definitivamente por conta dos consulentes. Arbitrei o preço das consultas, com bonificações especiais aos pobres e desvalidos da sorte, e meu consultório encheu-se de gente.
“Interesse enorme foi despertado entre os que desejavam melhoras físicas e solução de negócios materiais. Grande número de famílias abastadas tomou-me por consultor habitual, para todos os problemas da vida. As lições de espiritualidade superior, a confraternização amiga, o serviço redentor do Evangelho e as preleções dos emissários divinos ficaram à distância. Não mais a escola da virtude, do amor fraternal, da edificação superior, e sim a concorrência comercial, as ligações humanas legais ou criminosas, os caprichos apaixonados, os casos de polícia e todo um cortejo de misérias da Humanidade, em suas experiências menos dignas.
“Transformara-se completamente a paisagem espiritual que me rodeava. À força de me cercar de pessoas criminosas, por questões de ganho sistemático, as baixas correntes mentais dos inquietos clientes encarceraram-me em sombria cadeia psíquica.
Cheguei ao crime de zombar do Evangelho de Nosso Senhor Jesus, esquecido de que os negócios delituosos dos homens de consciência viciada contam igualmente com entidades perniciosas, que se interessam por eles nos planos invisíveis. E transformei a mediunidade em fonte de palpites materiais e baixos avisos. ”
Nesse momento, os olhos do narrador cobriram-se de súbita vermelhidão, estampando-se lhe fundo horror nas pupilas, como se estivesse revivendo atrozes dilacerações.
– Mas a morte chegou, meus amigos, e arrancou-me a fantasia – prosseguiu mais grave –. Desde o instante da grande transição, a ronda escura dos consulentes criminosos, que me haviam precedido no túmulo, rodeou-me a reclamar palpites e orientações de natureza inferior. Queriam notícias de cúmplices encarnados, de resultados comerciais, de soluções atinentes a ligações clandestinas.
Gritei, chorei, implorei, mas estava algemado a eles por sinistros elos mentais, em virtude da imprevidência na defesa do meu próprio patrimônio espiritual. Durante onze anos consecutivos, expiei a falta, entre eles, entre o remorso e a amargura.
Acelino calou-se, parecendo mais comovido, em vista das lágrimas abundantes. Fundamente sensibilizado, Vicente considerou:
– Que é isso? Não se atormente assim. Você não cometeu assassínios, nem alimentou a intenção deliberada de espalhar o mal.
A meu ver, você enganou-se também, como tantos de nós. Acelino, porém, enxugou o pranto e respondeu:
– Não fui homicida nem ladrão vulgar, não mantive o propósito íntimo de ferir ninguém, nem desrespeitei alheios lares, mas, indo aos círculos carnais para servir às criaturas de Deus, nossos irmãos, auxiliando-os no crescimento espiritual com Jesus, apenas fiz viciados da crença religiosa e delinquentes ocultos, mutilados da fé e aleijados do pensamento. Não tenho desculpas, porque estava esclarecido; não tenho perdão, porque não me faltou assistência Divina.
E, depois de longa pausa, concluiu gravemente:
– Podem avaliar a extensão da minha culpa?

Da obra: OS MENSAGEIROS. Chico Xavier-André Luiz 

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