Os gregos acreditavam que, depois da morte, a alma, sendo
imortal, não desaparecia com o corpo e ia para uma região chamada Hades (o
mundo dos mortos que ficava sob a terra e era governada pelos deuses Plutão ou
Hades e Prosérpina). Para que a alma chegasse ao Hades, porém, havia que ser
morta e enterrada segundo rituais. Caso uma pessoa morresse, mas não fosse
enterrada, a sua alma não ia para o Hades e ficaria vagando pela terra
perturbando a vida dos mortais. Era também por isso que as famílias
greco-romanas antigas faziam o culto dos mortos ou culto dos ancestrais, cujo
objetivo era prover a alma do morto de alimento para que, faminta, ela não
viesse cobrar dos vivos a atenção que lhe seria devida.
Esta ideia atravessou os séculos e chegou aos nossos dias
como alma penada, assombração ou alma do outro mundo. Assim, na cultura popular
brasileira, acreditava-se que muitas almas estavam condenadas a vagar pela
Terra cumprindo um fado que durava certo número de anos, normalmente sete.
Outras ficavam apegadas a certos lugares, como a casa onde viveram. Tais
lugares eram chamados de assombrados, pois em grego, apareciam na forma de
sombra. Havia também lugares especiais habitados pelas almas como: cemitérios,
lugares ermos, velhos castelos e teatros, onde atores fantasmas continuavam a
encenar suas peças e assim por diante. Essa crença gerou um grande número de
relatos que servem até hoje de matéria para filmes e livros.
Nos anos cinquenta, eu morava em um bairro chamado Rocha
Miranda. Perto da minha rua, (a Rua 29) havia a Rua 30 em cuja parte mais alta
havia os restos de uma fazenda antiga que o povo dizia ter pertencido ao
Coronel Vira-Mundo. Ninguém passava à noite, principalmente, à meia-noite ou hora
grande, nas imediações da fazenda, pois vindo de seus escombros ouviam-se
gemidos lamentosos, uivos terríveis, gritos de dor. Outros afirmavam que
aparecia o próprio Vira-Mundo, que vinha na bica de água ali existente lavar
seu cavalo de fogo.
Na Rua 30, havia um fantasma conhecido como a Mulher que
Crescia. Quem a havia visto contava que ela andava altas horas da noite por
aquela rua. Vista de longe, parecia uma mulher comum, vestida de branco e de
cabelos compridos, mas à medida que ela se aproximava do passante, ia
crescendo... crescendo ...crescendo tanto que ficava mais alta do que um poste
e depois, literalmente, se derramava sobre o pobre coitado que tivesse a
infelicidade de vê-la: aterrorizado, saía em desabalada carreira ou mesmo
desmaiava, só acordando pela manhã do dia seguinte.
Na Rua Américo da Rocha, em Honório Gurgel, havia um
"meladeiro" misterioso que passava vendendo melado depois da
meia-noite. Assustadas, as pessoas não abriam a janela para vê-lo,
limitavam-se, fazendo o sinal da cruz ao ouvir-lhe a voz triste e lamentosa
anunciando o seu produto até ao final da rua. Um dia, uma jovem que morava na
Zona Sul estava na casa de uma prima que ia se casar e o ouviu passar; sem se
importar, chamou-o e comprou uma garrafa de melado. O homem estranho não quis
receber dinheiro algum e seguiu seu caminho. Depois, quando ela abriu o pacote
onde estaria o melado encontrou uma canela de defunto.
Havia também as almas penadas que erravam pela Terra porque
estavam no purgatório precisando de missas que não lhes eram feitas. Assim,
essas almas apareciam para as pessoas pedindo a elas que lhes rezassem missas.
Nessas histórias a assombração, se atendida por uma pessoa corajosa, revelava a
esta a existência de tesouros escondidos com os quais ela poderia pagar as
missas, geralmente sete, ficando com o restante.
Um desses relatos conta a história de um estudante muito
corajoso que foi passear pelo interior do estado de Minas Gerais. Ao anoitecer,
chegou a uma cidadezinha e desejou passar a noite ali, mas não havia hotéis na
cidade e, como ele insistisse, um morador, lhe disse que havia, nas
proximidades, uma fazenda abandonada em cujo casarão ele poderia dormir, desde
que não tivesse medo porque o lugar era encantado (assombrado). O rapaz não
teve medo e lá se foi para o lugar. Ali chegando, encontrou um velho cômodo que
lhe pareceu bom para dormir e se deitou.
Altas horas da noite, ouviu uma voz que vinha do teto e
dizia, apavorante: "Eu caio... Eu caio... Eu caio...". O rapaz não
teve medo e falou: "Quer cair, pode cair." Nesse momento, caiu a
perna de um esqueleto. A voz continuava dizendo a mesma coisa e o rapaz mandava
cair. E caiam partes de um esqueleto. Quando o esqueleto ficou completo, disse
ao jovem que o acompanhasse. O jovem seguiu com o fantasma que lhe apontou um
lugar do lado de fora e lhe disse que cavasse ali: o rapaz cavou e encontrou
uma panela cheia de moedas de ouro. O esqueleto, então, falou: "Pega este
dinheiro reza sete missas para mim e fica com o resto para você." O rapaz
fez isso e nunca mais apareceu coisa alguma na fazenda assombrada.
Essas histórias são folclóricas, resultado da imaginação
popular e de materiais muito antigos que chegaram adaptados aos nossos dias e à
nossa realidade. Entretanto, elas apontam para uma crença arraigada na alma
popular: a vida continua e as pessoas chamadas mortas não estão desaparecidas
para sempre e podem se manifestar aos vivos. Muitas dessas histórias podem ser
explicadas pela Doutrina Espírita. Há, inclusive, um livro clássico de Camilo
Flamarion As Casas Mal-Assombradas dedicado a este assunto e baseado em fatos
reais documentados.
Ficamos por aqui, mas acredito que os interessados em
pesquisa sobre este assunto poderiam mesmo escrever um livro que poderia se
intitular: Fantasmas e assombrações segundo o Espiritismo. Matéria é o que não
falta.
José Carlos Leal- CORREIO ESPÍRITA
Nenhum comentário:
Postar um comentário