A
reencarnação é necessária enquanto a matéria domina o Espírito; mas do momento
em que o Espírito encarnado chegou a dominar a matéria e anular os efeitos de
sua reação sobre o moral, a reencarnação não tem mais nenhuma utilidade nem
razão de ser. Com efeito, o corpo é necessário ao Espírito para o trabalho
progressivo até que, tendo chegado a manejar esse instrumento à sua maneira, a
lhe imprimir a sua vontade, o trabalho está realizado. É-lhe preciso, então, um
outro campo para a sua caminhada, para o seu adiantamento no infinito; lhe é
preciso um outro círculo de estudos onde a matéria grosseira das esferas
inferiores seja desconhecida. Tendo sobre a Terra, ou em globos análogos,
depurado e experimentado suas sensações, está maduro para a vida espiritual e
seus estudos. Tendo se elevado acima de todas as sensações corpóreas, não tem
mais nenhum desses desejos ou necessidades inerentes à corporeidade: ele é
Espírito e vive pelas sensações espirituais que são infinitamente mais
deliciosas do que as mais agradáveis sensações corpóreas.
A bem dizer,
a encarnação carece de limites precisamente traçados, se tivermos em vista
apenas o envoltório que constitui o corpo do Espírito, dado que a materialidade
desse envoltório diminui à proporção que o Espírito se purifica. Em certos
mundos mais adiantados do que a Terra, já ele é menos compacto, menos pesado e
menos grosseiro e, por conseguinte, menos sujeito a vicissitudes. Em grau mais
elevado, é diáfano e quase fluídico. Vai desmaterializando-se de grau em grau e
acaba por se confundir com o perispírito. Conforme o mundo em que é levado a
viver, o Espírito reveste o invólucro apropriado à natureza desse mundo.
O próprio
perispírito passa por transformações sucessivas. Torna-se cada vez mais etéreo,
até à depuração completa, que é a condição dos puros Espíritos. Se mundos
especiais são destinados a Espíritos de grande adiantamento, estes últimos não
lhes ficam presos, como nos mundos inferiores. O estado de desprendimento em
que se encontram lhes permite ir a toda parte onde os chamem as missões que
lhes estejam confiadas.
Se se considerar do ponto de vista material
a encarnação, tal como se verifica na Terra, poder-se-á dizer que ela se limita
aos mundos inferiores. Depende, portanto, de o Espírito libertar-se dela mais
ou menos rapidamente, trabalhando pela sua purificação.
Deve também considerar-se que no estado de
desencarnado, isto é, no intervalo das existências corporais, a situação do
Espírito guarda relação com a natureza do mundo a que o liga o grau do seu
adiantamento. Assim, na erraticidade, é ele mais ou menos ditoso, livre e
esclarecido, conforme está mais ou menos desmaterializado. – São Luís. (Paris,
1859.)
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