Aproxima-se
mais uma edição da "festa do delírio", quando são liberadas as
fantasias e é permitido o prazer de viver "os prazeres da carne", a
pretexto de suportarmos, pelo resto do ano, os desprazeres da "vida
real". E como estamos "no país do samba e do carnaval", não
temos como escapar da folia, ainda mais numa era de intensa e irreversível
interação digital, pelo que o assunto permeia nossa casa, nosso cotidiano,
nossa mente. É possível fazer diferente? Será que não temos o direito
"humano" de gozar um pouquinho dessa farra toda? Não seria ou
"fanatismo" ou "puritanismo" demais da parte dos religiosos
se esquivar dessas "coisas naturais"? Afinal, o que é certo e o que é
errado em torno do Carnaval?
Bem, quem
somos nós para dizermos o que é certo e o que não é! Em todo o caso, a Doutrina
Espírita, através da sua literatura clássica e das experiências de respeitáveis
confrades, vem nos dar subsídios para nossa reflexão acerca do referido tema, a
fim de cada qual construa sua afirmação consciência.
Na
psicografia de Chico Xavier pelo Espírito Emmanuel encontramos o seguinte:
"Nenhum
espírito equilibrado em face do bom senso, que deve presidir a existência das
criaturas, pode fazer a apologia da loucura generalizada que adormece as
consciências, nas festas carnavalescas. “É lamentável que, na época atual,
quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a
chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhe as belezas e os
objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza entre as
sociedades que se pavoneiam com o título de civilização. “Enquanto os trabalhos
e as dores abençoadas, geralmente incompreendidos pelos homens, lhes burilam o
caráter e os sentimentos, prodigalizando-lhes os benefícios inapreciáveis do
progresso espiritual, a licenciosidade desses dias prejudiciais opera, nas
almas indecisas e necessitadas do amparo moral dos outros espíritos mais
esclarecidos, a revivescência de animalidades que só os longos aprendizados
fazem desaparecer. “Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo
acesso das forças da treva nos corações e, às vezes, toda uma existência não
basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia e de esquecimento
do dever. “Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de
necessidade e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se
enfeitem e se intensifiquem o olvido de obrigações sagradas por parte das almas
cuja evolução depende do cumprimento austero dos deveres sociais e divinos.
“Ação altamente meritória seria a de empregar todas as verbas consumidas em
semelhantes festejos, na assistência social aos necessitados de um pão e de um
carinho. “Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os
cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. Por que protelar
essa ação necessária das forças conjuntas dos que se preocupam com os problemas
nobres da vida, a fim de que se transforme o supérfluo na migalha abençoada de
pão e de carinho que será a esperança dos que choram e sofrem? Que os nossos
irmãos espíritas compreendam semelhantes objetivos de nossas despretensiosas
opiniões, colaborando conosco, dentro das suas possibilidades, para que
possamos reconstruir e reedificar os costumes para o bem de todas as almas. “É
incontestável que a sociedade pode, com o seu livre-arbítrio coletivo, exibir
superfluidades e luxos nababescos, mas, enquanto houver um mendigo abandonado
junto de seu fastígio e de sua grandeza, ela só poderá fornecer com isso um
eloquente atestado de sua miséria moral".
Emmanuel
(Espírito) Psicografado por Francisco Cândido Xavier em Julho de 1939
Os efeitos
mais comuns resultados do feriadão de carnaval são o liberalismo sexual,
bebedeira, ocorrências de acentuada gravidade, altos índices de acidentes
automobilísticos (por ocasião do uso excessivo de bebidas alcoólicas), gravidez
indesejada e precoce, de jovens etc.
Mas, convém
comentar que, também fora do período carnavalesco, no resto do ano, prolifera-se
em nossa cultura a libertinagem e o apelo ao gozo banal, cuja prova mais
patente é a degeneração da música popular brasileira, pelo que vemos a
promiscuidade típica dos bailes funk, agora contaminando outros gêneros, como a
música sertaneja e o forró. Nas festas, pancadões e "baladas", das
periferias aos centrões das cidades, a praxe é "liberar geral". E
some-se a isso a trilha sonora e o embalo das festas caseiras — aniversários,
churrasco de fim de ano, Natal, batizados etc.
Tudo isso é
para se pensar.
"Tudo
me é lícito, mas nem tudo me convém”. Paulo de Tarso, I Coríntios. 6,12.
Fonte: Luz
Espírita- Espiritismo em Movimento
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